16 maio, 2006


"Encostei-me a ti sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras somente nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí". Cecília Meireles
Ela dança como quem voa, ele pensou, e imediatamente estava a cercá-la. Primeiro com o olhar. Permaneceu assim durante vários minutos, seus olhos acompanhando os movimentos suaves, delicados, mas não sem algum tipo de força , de marca. Ela deslizava por entre o salão e ninguém a podia, nem mesmo aquele estranho. Seus olhos marcavam espaços, faziam estradas, construíam caminhos. De repente ela estava lá, tão perto que o perfume podia ser sentido por ele. Jasmim, ele pensou mais uma vez, só poderia ser. O perfume do jasmim se contradiz com o tamanho da flor, ele é maior, assim como ela, maior do que aquele lugar, do que aquelas pessoas, do que ele. O olhar se tornou insuficiente, agora era o olfato que tentava obtê-la. Minutos depois concluiu que todos os seus sentidos perceberam-na. Ela estava nele, quase completamente. Nenhuma parte, por menor que fosse, pôde ser esquecida. Naquele momento ele passou a ser dela. Dali por diante, tudo que fizesse, para onde fosse , ela estaria lá.
"Licença", e assim ele a ouviu pela primeira vez. Para sempre se lembraria daquela voz. Era como no sonho de minutos atrás, era palpável como o veludo. Voz doce, como aquelas que elevam, que subtraem. Posso me sentar foi a segunda frase e assim os dois se encontraram, se conheceram. Horas mais tarde ela também era dele. Todos os segundos passaram como se fossem eternos, únicos. Não existiam limites, não havia o fora e assim ele se perdeu. Naquele dia fizeram poesia, poema, canções.Contaram e cantaram suas vidas, sorriram e ela chorou nele. Ele acolheu sua dor, beijou e a amou muitas vezes. Viu-se como nunca antes o tinha. Quando menino pensava não ser possível o amor, pessoas ferem quando amam, e assim nunca tinha se dado, compartilhado. Guardou uma lágrima, calou sua infância. Ao amanhecer, pela primeira vez ele percebeu o que havia se passado. Viu que ela se vestia, era mais bonita assim, com a luz da manhã, sem a sombra da maquiagem que todos nós usamos quando queremos conhecer alguém ou quando queremos desaparecer de nós. Seu cabelo estava molhado, o que indicava que ele havia dormido e, com isso, perdido mais tempo, mais do tempo, menos um pouco de si. Ela deu um sorriso, disse algumas palavras que ele não se lembra mais. Ele tentou prendê-la por mais alguns minutos, imediatamente se lembrou de como a tinha visto pela primeira vez. Ela dançava como quem voava. Descobriu que não podia. Ela era livre, ele, para sempre, estava preso. Ele nunca soube mais daquela noite. Vez por outra, quando ouvia um poema, POEMA, se lembrava, sem saber, de uma coisa boa. Um sorriso aparecia nos lábios e ele ficava bem. Um dia ela apareceu e mais uma vez ele soube. Nunca esteve tão só como naquele momento.
"Ele reza toda noite para encontrar outra mulher. Constatou que não adianta rezar contra ela. Ela é sua religião". Fabrício Carpinejar

2 comentários:

Anônimo disse...

MARAVILHOSSOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!Fá vc arrasou!!!!!!

Binho disse...

Oi Amore, Você é a minha melhor leitora. Adoro sempre quando vc vem aqui. Beijo