17 maio, 2006

Houve uma turbulência, o que fez com que seus pensamentos se dissipassem para outras imagens. Desde que saiu da sua casa não conseguiu fixar em nenhum ponto. Seus pensamentos ganhavam vida mesmo que um pouco dela estivesse morrendo a cada segundo. Em poucos dias faria aniversário e ao contrário de uma festa ou de uma viagem, como era costume naqueles dias, ela iria encontrar a dor. Não percebia nesse momento que seu futuro estava selado. Para sempre perdido, até o dia de hoje. Alguns anos se passaram e as lembranças daquela época ainda estão guardadas na memória. Hoje com menos sofrimento, mas ainda assim, pungentes. Mas a história é outra. Naquele dia ela perdeu mais que seu quarto ou outros objetos. Na realidade ela se despediu daquilo que poderia ter sido sua vida. Ela é uma mulher forte, íntegra, inteligente, por vezes dura, mas acima de tudo bela. Passa os dias a contar os dias, [re] lê histórias, faz estórias, cria mundos e assim se despede lentamente do seu futuro. Ontem, quando nos despedimos na saída do cinema, percebi um outro olhar, a tristeza não estava lá. No lugar dela fez-se um silêncio quase como um grito. Percebi que ela está desistindo e que, a cada dia há menos dias.
Tento, inutilmente, fazê-la feliz. Tento lhe emprestar sorrisos, sonhos, mas ela caminha sobre nuvens. Sua religião é ele, e a mesma não a levará para o céu. Ela sabe. Está condenada a vagar por entre mundos a procura de dormitórios. Não poderá nunca mais dormir, assim não conseguirá sonhar. Sem os sonhos estará mais uma vez no irremediável abismo que separa corpos, mundos, universos. Não consegue perceber que sempre foi assim. Sempre esteve separada, principalmente dele. Ele nunca esteve lá. Não ouviu quando ela pediu amor e nem quando reivindicou presença. Ele não escuta outro som que não o da sua própria dor. Dois amantes, separados por uma dor. Dele, agora dela. Algumas vezes ele se faz presença, anuncia música, amanhece a lua, perfuma caminhos, ilumina o sol. Nesses dias ela recua, desaparece, para depois retornar menos ela, menos dela. Por enquanto os dias se seguem assim. Ainda hoje me lembrei deles juntos. Por um rápido momento os vi num sonho real. Ela estava feliz. Nessa época eu ainda era um coadjuvante, não participava de todas as cenas, mas por algum milagre estava lá. Vi quando ele a abraçou, beijou. Ela está correta. Ele a ama, mas o seu corpo inteiro precisa saber. Naquele dia ele sabia e por isso ele era forte. Hoje a dor ocupou lacunas, barreiras quase intransponíveis, ele se tornou novamente só e assim impede que ela se aproxime, na realidade ele a evita. Sabe que ela pode curá-lo, o amor dela pode. Ele tem medo, ela também. Hoje sonhei que eles estavam juntos. Não vi crianças, mas a vi lendo em baixo de um salgueiro enquanto ele corria com um cachorro. De repente ele a toma nos braços e os dois dançam. Seus corpos são leves. Ela é música, ele instrumento. Nos meus sonhos ela é feliz, ele também. Eu também. Vou dormir. Quero continuar sonhando, assim posso vê-la de novo sorrir.

2 comentários:

Anônimo disse...

meu amor, esse presente é aind amais lindo do que a carta que vc me deu. Tô aos prantos!!Nems sei bem o que dizer, acho que não preciso dizer como isso é triste, vc sabe, vc viu isso nos meus olhos e na minha dor. viu como poucas pessoas tiveram a coragem de ver, pq é preciso tr coragem pra ver tamanha tristeza. Vc tem razão já é uma tristeza menos triste ou menos doida, quem sabe?? Nós sabemos!!
Lindo e triste até quase o final ai o seu sonho fica lindo e feliz como o meu não ousa mais ser. Quem sabe hoje eu consiga sonhar como vc, com um final feliz pra tdos nós. De verdade espero que sim!!!!!
Te amo bem muitão, viu?!

Binho disse...

Saiba que eu acredito. Acredito sobretudo em vc. Hoje e sempre. Estou aqui. Beijo com amor.