22 fevereiro, 2007

Sei não, não sei mesmo e há muito tempo. Desconheço os conselhos, escondo-me das soluções possíveis e arrisco cada vez mais num lugar outro que não me traz a menor confiança. Também não tenho confiança em mim, nem em ti, nem nas palavras, nem no silêncio. Não vejo lugar possível, ombro amigo, lingua salgada, colo macio. Estou hoje e ontem e sempre buscando mais de mim em todos os lugares e o que ouço, vejo, sinto e cheiro é poeira, ventania, tempestade. Acho que desapareci no minuto em que nasci. Talvez tenha voltado para lá, onde era úmido, quente, carinho. Canso muito de toda esta terra árida, de pessoas áridas, de amor árido, de sempre fome na boca e coração sozinho. Sofro de falta e é um sofrimento doído, estridente e também árido. A tempestade que se aproxima não molha o seco que a vida é. Água sem molhar é igual a coração sem amar, boca sem beijar, pele sem tocar, corpo sem dançar, religião sem fé, crime sem castigo. É por isso que sofro de alergia, porque tenho terra na garganta e não tenho água para fazer lama.

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