03 agosto, 2006

Edvard Munch - The Kiss - 1897

Nunca acreditei muito no amor, pelo menos naquele tipo que eu consumia vendo todas as novelas da globo. Era amor demais. Alto demais. Grande demais. Bonito demais. As pessoas sempre felizes, ou quando não, sofriam desesperadamente, mas no final lá estavam elas... Felizes para sempre. Para mim o amor sempre foi mistério indecifrável, inesgotável. Poder demais dentro do peito, da cabeça, do estômago. Não sei. Nunca soube. Sinto. Mas não sei por que. Queria saber, assim poderia tratá-lo, educá-lo, matá-lo. Não o meu, claro, ele vai muito bem, obrigado, mas poderia prestar consultoria... Ganharia muito dinheiro. Faria as pessoas deixarem de amar. No entando, o mundo perderia um pouco de charme. É bom amar, melhor ainda é ser correspondido, porém, isso não interessa muito ao amor. É claro que as pessoas querem ser amadas em retribuição, mas quando não são, o amor continua lá. O amor é nosso , não do outro. E assim, nós o levamos para onde queremos. Vez por outra para a cama, outras tantas para o médico, para o padre, para o analísta, para o bar. Quero levar o meu para o céu, como Abelardo e Heloísa. Em alguns momentos, é no inferno que ele habita, como Florbela, como Rimbaud. O amor é nosso, como nosso também é o ciúme e a inveja e a raiva e o perdão e o tédio e a doença e a solidão... assim, sem ponto, sem vírgula. Tudo nosso, juntos. O amor é sozinho, sem vizinho, sem amigos. É neblina, colina, roda-gigante. Coisa estranha é o Homem: ele ama, e aí ele não é mais dele, nem do outro, nem de ninguém. Ele é do amor. Ele pertence a outra lógica, àquela do mistério indecifrável. O amor foi dado a ele, com isso ficou perdido, louco varrido, desmedido, mas acima de tudo vivido, sentido, doído.

Um comentário:

Anônimo disse...

nossa... como eu gosto dos seus textos.

mesmo sem pretender, foi uma boa consultoria :)

até! bjs